segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Assedio moral





Síndrome de Burnout em Professores



Burnout - Entrevista Canal Futura /Gisele Levy - editada

Quando a escola é de vidro





Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito.
Eu nem desconfiava que existissem lugares muito diferentes...
Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chagava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.

É, no vidro!

Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não!

O vidro dependia da classe em que a gente estudava.

Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho.
Se você fosse do segundo ano seu vidro era um pouquinho maior.
E assim, os vidros iam crescendo á medida em que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano era um horror.
Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.
E pra falar a verdade, ninguém cabia direito.

Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.
Os muitos altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, ás vezes até batiam no professor.
Ele ficava louco da vida e atarrachava a tampa com força, que era pra não sair mais.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava...
As meninas ganhavam uns vidros menores que os meninos.
Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabia nos vidros, se respiravam direito...

A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física.
Mas aí a gente já estava desesperado, de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.
As meninas, coitadas, nem tiravam os vidros no recreio. e na aula de educação física elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficarem livres, não tinha jeito nenhum para Educação Física.
Dizem, nem sei se é verdade, que muitas meninas usavam vidros até em casa.
E alguns meninos também.
Estes eram os mais tristes de todos.
Nunca sabiam inventar brincadeiras, não davam risada á toa, uma tristeza!

Se agente reclamava?
Alguns reclamavam.
E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida.
Uma professora, que eu tinha, dizia que ela sempre tinha usado vidro, até pra dormir, por isso que ela tinha boa postura.
Uma vez um colega meu disse pra professora que existem lugares onde as escolas não usam vidro nenhum, e as crianças podem crescer a vontade.
Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...

Tinha menino que tinha até de sair da escola porque não havia jeito de se acomodar nos vidros. E tinha uns que mesmo quando saíam dos vidros ficavam do mesmo jeitinho, meio encolhidos, como se estivessem tão acostumados que até estranhavam sair dos vidros.
Mas uma vez, veio para minha escola um menino, que parece que era favelado, carente, essas coisas que as pessoas dizem pra não dizer que é pobre.
Aí não tinha vidro pra botar esse menino.
Então os professores acharam que não fazia mal não, já que ele não pagava a escola mesmo...

Então o Firuli, ele se chamava Firuli, começou a assistir as aulas sem estar dentro do vidro.
O engraçado é que o Firuli desenhava melhor que qualquer um, o Firuli respondia perguntas mais depressa que os outros, o Firuli era muito mais engraçado...
E os professores não gostavam nada disso...
Afinal, o Firuli podia ser um mal exemplo pra nós...
E nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada, quando queria ele espreguiçava, e até mesmo que gozava a cara da gente que vivia preso.
Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro.

Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro, como qualquer um.
Mas no dia seguinte duas meninas resolveram que não iam entrar no vidro também:
- Se o Firuli pode por que é que nós não podemos?
Mas Dona Demência não era sopa.
Deu um coque em cada uma, e lá se foram elas, cada uma pro seu vidro...
Já no outro dia a coisa tinha engrossado.
Já tinha oito meninos que não queriam saber de entrar nos vidros.

Dona Demência perdeu a paciência e mandou chamar seu Hermenegildo que era o diretor lá da escola.
Seu Hermenegildo chegou muito desconfiado:
- Aposto que essa rebelião foi fomentada pelo Firuli. É um perigo esse tipo de gente aqui na escola. Um perigo!
A gente não sabia o que é que queria dizer fomentada, mas entendeu muito bem que ele estava falando mal do Firuli.
E seu Hermenegildo não conversou mais. Começou a pegar as meninos um por um e enfiar á força dentro dos vidros.

Mas nós estávamos loucos para sair também, e pra cada um que ele conseguia enfiar dentro do vidro - já tinha dois fora.
E todo mundo começou a correr do seu Hermenegildo, que era pra ele não pegar a gente, e na correria começamos a derrubar os vidros.
E quebramos um vidro, depois quebramos outro e outro mais dona Demência já estava na janela gritando - SOCORRO! VÂNDALOS! BÀRBAROS!
(pra ela bárbaro era xingação).
Chamem o Bombeiro, o exército da Salvação, a Polícia Feminina...

Os professores das outras classes mandaram cada um, um aluno para ver o que estava acontecendo.
E quando os alunos voltaram e contaram a farra que estava na 6° série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros.
Na pressa de sair começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa, que era pra pensar num castigo bem grande, pro dia seguinte.
Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria tudo de novo.

Então diante disso seu Hermenegildo pensou um pocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais.
E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro, cada um podia se esticar um bocadinho, não precisava ficar duro nem nada, e que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
Dona Demência, que apesar do nome não era louca nem nada, ainda disse timidamente:
- Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...

Seu Hermenegildo não se pertubou:
- Não tem importância. Agente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
Depois aconteceram muitas coisas, que um dia eu ainda vou contar...


Ruth Rocha. Admirável mundo louco;uns pelos outros; quando a escola é de vidro. Rio de Janeiro:Salamandra, 1986.

Perguntas de um operário que lê



Quem construiu a Tebas, das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?
E a Babilônia tantas vezes destruída,
Quem a ergueu outras tantas?
Em casas de Lima radiante de ouro?
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China
A grande Roma está cheia de arcos de triunfo.
Quem os levantou?
Sobre quem triunfaram os césares?
A decantada Bizâncio sò tinha palácios
Para seus habitantes?
Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite que o mar a engoliu
Os que se afogavam gritavam pelos seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia
Ele sozinho?
César bateu os gauleses.
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?
Filipe de Espanha chorou quando sua amada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a guerra dos Sete Anos
Quem venceu, além dele?


Uma vitória em cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava suas despesas?


Tantos relatos.
Tantas perguntas




Bertolt Brecht (1898-1956)

Urubus e sabiás





Rubem Alves

"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...
MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."

"Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 81.

sábado, 26 de setembro de 2009

O Porteiro do Prostíbulo



Não havia no povoado pior ofício do que "porteiro do prostíbulo".
Mas que outra coisa poderia fazer aquele homem? O fato é que nunca tinha aprendido a ler nem escrever, não tinha nenhuma outra atividade ou ofício.

Um dia, entrou como gerente do prostíbulo um jovem cheio de idéias, criativo e empreendedor, que decidiu modernizar o estabelecimento.

Fez mudanças e chamou os funcionários para as novas instruções.
Ao porteiro disse:
- A partir de hoje, o senhor, além de ficar na portaria,vai preparar um relatório semanal onde registrará a quantidade de pessoas que entram e seus comentários e reclamações sobre os serviços.
- Eu adoraria fazer isso, senhor - balbuciou - mas eu não sei ler nem escrever!!
- Ah! Quanto eu o sinto!... Mas se é assim, já não poderá seguir trabalhando aqui.
- Mas Senhor, não pode me despedir, eu trabalhei nisto a minha vida inteira, não sei fazer outra coisa.
- Olhe, eu compreendo, mas não posso fazer nada pelo senhor. Vamos dar-lhe uma boa indenização e espero que encontre algo para fazer. Eu sinto muito e que tenha sorte.

Sem mais nem menos, deu meia volta e foi embora. O porteiro sentiu como se o mundo desmoronasse. Que fazer?

Lembrou que no prostíbulo, quando quebrava alguma cadeira ou mesa, ele a arrumava, com cuidado e carinho. Pensou que esta poderia ser uma boa ocupação até conseguir um emprego. Mas só contava com alguns pregos enferrujados e um alicate mal conservado.

Usaria o dinheiro da indenização para comprar uma caixa de ferramentas completa.

Como o povoado não tinha casa de ferragens, deveria viajar dois dias em uma mula para ir ao povoado mais próximo para realizar a compra. E assim o fez...

No seu regresso, um vizinho bateu à sua porta:
- Venho para perguntar se você tem um martelo para me emprestar.
- Sim, acabo de comprá-lo, mas eu preciso dele para trabalhar. Já que fiquei sem emprego.
- Bom, mas eu o devolverei amanhã bem cedo.
- Se é assim, está bom.

Na manhã seguinte, como havia prometido, o vizinho bateu à porta e disse:
- Olha, eu ainda preciso do martelo. Porque você não o vende para mim?
- Não, eu preciso dele para trabalhar e além do mais, a casa de ferragens mais próxima está a dois dias mula de viagem.
- Façamos um trato - disse o vizinho. Eu pagarei os dias de ida e volta mais o preço do martelo, já que você está sem trabalho no momento. Que lhe parece?

Realmente, isto lhe daria trabalho por mais dois dias.

Aceitou. Voltou a montar na sua mula e viajou. No seu regresso, outro vizinho o esperava na porta de sua casa.
- Olá, vizinho. Você vendeu um martelo a nosso amigo. Eu necessito de algumas ferramentas, estou disposto a pagar-lhe seus dias de viagem, mais um pequeno lucro para que você as compre para mim, pois não disponho de tempo para viajar para fazer compras. Que lhe parece?

O ex-porteiro abriu sua caixa de ferramentas e seu vizinho escolheu um alicate, uma chave de fenda, um martelo e uma talhadeira. Pagou e foi embora. E nosso amigo guardou as palavras que escutara: "não disponho de tempo para viajar para fazer compras".

Se isto fosse certo, muita gente poderia necessitar que ele viajasse para trazer as ferramentas.

Na viagem seguinte, arriscou um pouco mais de dinheiro trazendo mais ferramentas do que as que havia vendido.

De fato, poderia economizar algum tempo em viagens. A notícia começou a se espalhar pelo povoado e muitos, querendo economizar a viagem, faziam encomendas.

Agora, como vendedor de ferramentas, uma vez por semana viajava e trazia o que precisavam seus clientes.

Com o tempo, alugou um galpão para estocar as ferramentas e alguns meses depois, comprou uma vitrine e um balcão e transformou o galpão na primeira loja de ferragens do povoado.

Todos estavam contentes e compravam dele. Já não viajava, os fabricantes enviavam-lhe seus pedidos. Ele era um bom cliente.

Com o tempo, as pessoas dos povoados vizinhos preferiam comprar na sua loja de ferragens, do que gastar dias em viagens.

Um dia ele lembrou de um amigo seu que era torneiro e ferreiro e pensou que este poderia fabricar as cabeças dos martelos. E logo, por que não, as chaves de fendas, os alicates, as talhadeiras, etc.. E após foram os pregos e os parafusos...

Em poucos anos, nosso amigo se transformou, com seu trabalho, em um rico e próspero fabricante de ferramentas.

Um dia decidiu doar uma escola ao povoado. Nela, além de ler e escrever, as crianças aprenderiam algum ofício.

No dia da inauguração da escola, o prefeito lhe entregou as chaves da cidade, o abraçou e lhe disse:
- É com grande orgulho e gratidão que lhe pedimos que nos conceda a honra de colocar a sua assinatura na primeira página do Livro de Atas desta nova escola.
- A honra seria minha - disse o homem. Seria a coisa que mais me daria prazer, assinar o Livro, mas eu não sei ler nem escrever, sou analfabeto.
- O senhor?!?! - disse o prefeito sem acreditar. O senhor construiu um império industrial sem saber ler nem escrever? Estou abismado. Eu pergunto: O que teria sido do senhor se soubesse ler e escrever?
- Isso eu posso responder - disse o homem com calma. Se eu soubesse ler e escrever... ainda seria o porteiro do prostíbulo!!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

OS ESTATUTOS DO HOMEM




THIAGO DE MELO

(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Art.I Fica decretado que agora vale a verdade, que agora vale a vida, e que, de mãos dadas, trabalharemos todos pela vida verdadeira.

Art. II Fica decretado que todos, os dias da semana inclusive as terças-feiras mais cinzentas têm direito a converter-se em manhãs de domingos.

Art.III Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra. E que as janelas devem permanecer abertas para o verde onde cresce a esperança.

Art. IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar. Como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único

O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Art. V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio. Nem a armadura de palavras.O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo, porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Art VI Fica estabelecida, durante os séculos da vida, a prática sonhada pelo profeta Isaías. E o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo da aurora.

Art. VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Art.VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama sabendo que é a água que dá a planta o milagre da flor.

Art IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Art. X Fica permitido a qualquer pessoa a qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Art. XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Art XII Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela

Parágrafo Unico

Só uma coisa fica proibida, amar sem amor.

Art. XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs de sol vindouras. Expulsos do grande baú do medo, o dinheiro, se transformará em uma espada fraternal para, defender o direito de cantar ea festa do dia que chegou.

Artigo Final

Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante, a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e sua morada será sempre O coração do homem.

O QUILOMBO DOS PALMARES


O QUILOMBO DOS PALMARES

A luta pela libertação levou o escravo à fuga para tentar reconstruir a vida em aldeias livres e protegidas dos quilombos.

Ali, o escravo tinha terra para cultivar, casa para morar, a família e sobretudo a liberdade.

O quilombo mais famoso foi o de Palmares, no estado de Alagoas, que chegou a abrigar 20000 escravos foragidos e era liderado por Zumbi.

No ano de 1693, após um mês de cerco, o quilombo de Palmares foi destruído por um exército de mais de 6000 soldados.

Zumbi conseguiu escapar, porém dois anos mais tarde foi capturado e morto. Partes de seu corpo foram expostas nu poste, em praça pública, no Recife, como lição para quem tentasse resistir a escravidão.

Mas, para os negros, Zumbi não morreu. Ele está aí, animando as lutas de ontem e de hoje, em busca de libertação!

No dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi, comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra.

(O mensageiro de Santo Antônio- Janeiro/Fevereiro/1988, p.25)

Debret e Clara Nunes



Canto Das Três Raças

Clara Nunes

Composição: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro

Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou

Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

ô, ô, ô, ô, ô, ô
ô, ô, ô, ô, ô, ô

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador

Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

domingo, 20 de setembro de 2009

Como uma onda no mar


Como Uma Onda
Lulu Santos
Composição: Lulu Santos / Nelson Motta
Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir
Pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

Nada do que foi será
De novo do jeito
Que já foi um dia
Tudo passa
Tudo sempre passará

A vida vem em ondas
Como um mar
Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo

Não adianta fugir
Nem mentir pra si mesmo agora
Há tanta vida lá fora
Aqui dentro sempre

Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar
Como uma onda no mar

O ano passado- Roberto Carlos


Video legendado, com carinho para todos os que fazem a comunidade surda

O Ano Passado

Roberto Carlos

Composição: Roberto Carlos / Erasmo Carlos

O ouro no ano passado subiu sem parar
Os gritos na bolsa falaram de outros valores
Corpos estranhos no ar
Silenciosos voadores
Quem sabe olhando o futuro do ano passado
O mar quase morre de sede no ano passado
Os rios ficaram doentes com tanto veneno
Diante da economia
Quem pensa em ecologia
Se o dólar é verde é mais forte que o verde que havia
O que será o futuro que hoje se faz
A natureza as crianças e os animais ?
Quantas baleias queriam nadar como antes
Quem inventou o fuzil de matar elefantes ?
Quem padeceu de insônia
Com a sorte da Amazônia
Na lei do machado o mais forte do ano passado
Não adianta soprar a fumaça do ar
As chaminés do progresso não podem parar
Quem sabe um museu no futuro
Vai guardar em lugar seguro
Um pouco de ar puro reliquia do ano passado
O que será o futuro que hoje se faz
A natureza as crianças e os animais ?
Os campos risonhos um dia tiveram mais flores
E os bosques tiveram mais vida e até mais amores
Quem briga com a natureza
Envenena a própria mesa
Contra a força de Deus não existe defesa
O que será o futuro que hoje se faz
A natureza as crianças e os animais
O que será o futuro que hoje se faz

Velha Infância-Tribalistas


Velha Infância

Tribalistas

Composição: Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Marisa Monte

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito...

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor...

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
A gente brinca
Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só...

Você é assim
Um sonho pra mim
Você é assim...
Você é assim...
Você é assim...

-"Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Penso em você
Desde o amanhecer
Até quando me deito
Eu gosto de você
Eu gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo
É o meu amor"

Pau de Arara





Luíz Gonzaga
Composição: Luiz Gonzaga e Guio de Moraes
Quando eu vim do sertão,
seu môço, do meu Bodocó
A malota era um saco
e o cadeado era um nó
Só trazia a coragem e a cara
Viajando num pau-de-arara
Eu penei, mas aqui cheguei (bis)
Trouxe um triângulo, no matolão
Trouxe um gonguê, no matolão
Trouxe um zabumba dentro do matolão
Xóte, maracatu e baião
Tudo isso eu trouxe no meu matulão....

A Triste Partida



A Triste Partida

Patativa do Assaré

Interpretada por Luiz Gonzaga

Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiênça
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Sinhô São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nóis vamo a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nóis vamo a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Ai pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai
E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai
Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrívi
Que tudo devora
Ai,lhe bota pra fora
Da terra natal
Ai, ai, ai, ai
O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai
No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Com seu filho choroso
Iscrama a dizer
Ai, ai, ai, ai
De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai
E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai
E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo e azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos fio pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai
Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Percura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai
Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai
Se arguma notíça
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade de móio
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai
Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai
Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
A lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Você já observou elefante no circo?





Durante o espetáculo, o enorme animal faz demonstrações de força descomunais.
Mas, antes de entrar em cena, permanece preso, quieto, contido somente por uma corrente que aprisiona uma de suas patas a uma pequena estaca cravada no solo.
A estaca é só um pequeno pedaço de madeira.
E, ainda que a corrente fosse grossa, parece óbvio que ele, capaz de derrubar uma árvore com sua própria força, poderia, com facilidade, arrancá-la do solo e fugir.
Que mistério!
Por que o elefante não foge?
Perguntei a um adestrador e ele me explicou que o elefante não escapa porque está amestrado.
Fiz então a pergunta óbvia:
-Se está amestrado, por que o prendem?
Não houve resposta!
Há alguns anos descobri que, por sorte minha alguém havia sido bastante sábio para encontrar a resposta:

O elefante do circo não escapa porque foi preso à estaca ainda muito pequeno.
Fechei os olhos e imaginei
O pequeno recém-nascido preso.
Naquele momento, o elefantinho puxou, forçou, tentando se soltar.
E, apesar de todo o esforço, não pôde sair.
A estaca era muito pesada para ele.
E o elefantinho tentava, tentava e nada.
Até que um dia, cansado, aceitou o seu destino.
Ficar amarrado na estaca, balançando o corpo de lá para cá,
eternamente, esperando a hora de entrar no espetáculo.
Então, aquele elefante enorme não se solta porque acredita que não pode.
Jamais, jamais voltou a colocar à prova sua força.
Isso muitas vezes acontece conosco!
Vivemos acreditando em um montão de coisas
'que não podemos ter',
'que não podemos ser',
'que não vamos conseguir',

Simplesmente porque, quando éramos crianças e inexperientes, algo não deu certo ou ouvimos tantos 'nãos' que 'a corrente da estaca' ficou gravada na nossa memória com tanta força que perdemos a criatividade e aceitamos o 'sempre foi assim'.

De vez em quando sentimos as correntes e confirmamos o estigma:
'não posso',
'é muita terra para o meu caminhãozinho',
'nunca poderei',
'é muito grande para mim!'

A única maneira de tentar de novo é não ter medo de enfrentar as barreiras, colocar muita coragem no coração e não ter receio de arrebentar as correntes!
Vá em frente!

sábado, 12 de setembro de 2009

No Dia Em Que Você Nasceu...






ImageChef.com Poetry Blender
HALLÁNS

No dia em que você nasceu os anjos tristes, por sua partida, entoaram hinos harmoniosos e angelicais. Era uma despedida entre irmãos .
Anjos de asas transparentes, anjos sorridentes, que juntos brincavam no céu. A separação doía, não queriam ficar longe de você, anjo travesso e feliz.

Foi então que tiveram uma idéia... A cada ano de vida terrestre, um anjo desceria e ficaria ao seu lado.

Assim a cada ano, um deles lhe faria companhia, aproveitando para matar as saudades. A idéia foi aceita e festejada por todos.

Depois daquele dia você nunca mais ficou só, A cada novo Aniversário, Um anjo desce e fica ao seu lado.

Sua proteção sempre foi muito grande, porque nada é mais forte que a pureza dos anjos "E O Amor Dos Amigos". Hoje É Seu Aniversario, dia da troca da guarda, E eu, gostaria muito de ser um deles, para ficar com você, Espalhando Luz E Amor Ao Seu Redor. Como não posso, envio-Lhe o meu abraço, O meu carinho e minha prece para que seu anjo da guarda seja tão Iluminado quanto você.

Parabéns...

Halláns te desejo paz, saúde, e muitas felicidades
Beijos do meu para o seu coração
Sua amiga de sempre
Van

Flávio José - Meus pais


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram - se o negro e a mulher
Pode ser o país de quem quiser
Mas não é, com certeza, o meu país

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país

Um país que perdeu a identidade
Sepultou o idioma português
Aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz
Que não pode esconder a cicatriz
De um povo de bem que vive mal
Pode ser o país do Carnaval
Mas não é com certeza o meu país

Um país que seus índios discrimina
E as ciências e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio-x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é com certeza o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que dizima a sua flora
Festejando o avanço do deserto
Pois não salva o riacho descoberto
Que no leito precário se estertora
Um país que cantou e hoje chora
Pelo bico do último concriz
Que florestas destrói pela raiz
E a grileiros de fora entrega o chão
Pode ser que ainda seja uma nação
Mas não é com certeza o meu país


Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

O que é ideologia


“...a família não é entendida como uma relação social que assume formas, funções e sentidos diferentes tanto em decorrência das condições históricas quanto em decorrência da situação de cada classe social na sociedade. Pelo contrário, a família é representada como sendo sempre a mesma (no tempo e para todas as classes) e, portanto, como uma realidade natural (biológica), sagrada (desejada e abençoada por Deus), eterna (sempre existiu e sempre existirá), moral (a vida boa, pura, normal,respeitada) e pedagógica (nela se aprendem as verdadeiras regras da verdadeira convivência entre os homens, com o amor dos pais e filhos, com o respeito e o temor dos filhos pelos pais, com amor fraterno).
Estamos, pois, diante da idéia da família e não diante da realidade histórico-social da família.
Ou , então quando se diz que o trabalho dignifica o homem e não se analisam as condições reais de trabalho, que brutalizam, entorpecem, exploram certos homens em benefício de uns poucos. Estamos diante da idéia de trabalho e não diante da realidade histórico-social do trabalho
Ou, então, quando se diz que os homens são livres por natureza e que exprimem essa liberdade pela capacidade de escolher entre coisas ou entre situações dadas para que os homens escolham. Quem dá as condições para a escolha ? Todos podem realmente escolherem o que desejarem? O nordestino vitima da seca e do proprietário das terras, realmente “escolhe” vir para o Sul do pais? Escolhe viver nas favelas? O peão metalúrgico “escolheu” livremente fazer horas- extras de pois de 12 horas de trabalho? A menina grávida que teme as sanções da família e da sociedade “escolhe” fazer um aborto? A definição da liberdade e direito à “escolha” é a idéia burguesa da liberdade e não a realidade histórico-social da liberdade.
Dissemos que a ideologia é o resultado da luta de classes e que tem por função esconder a existência dessa luta”.

(Marilena de Souza Chauí)

Ideologia - Cazuza


Ideologia
Cazuza
Composição: Cazuza / Frejat
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...

Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Prá nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Prá viver...

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver..
Ideologia!
Prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver...

Reflexão-fábula


(sem menção do autor)

Certo dia, os animais resolveram fundar uma escola, para preparar seus filhos para enfrentar os perigos desta vida.
Para facilitar o ensino, organizaram um currículo constituído de cursos de corrida, escalagem, natação e vôo.
O pato, exímio nadador saiu-se regularmente no curso de vôo,e tirou as piores notas no curso de corrida e escalagens. Por causa disto, era obrigado a ficar todo dia na escola, Para compensar essa fraqueza, fazendo exercícios extras. Acabou ficando com os pés tremendamente esfolados, o que prejudicou seu desempenho no curso de corrida, mas quase sofreu um colapso de tanto tentar a natação.
Ninguém trepava melhor do que o esquilo, mas foi muito criticado porque , ao invés de voar de baixo para cima, como lhe ensinava o professor , ele insistia em trepar na árvore e voar para baixo.
O urubu foi uma criança problema e, desde o princípio, foi severamente castigado por utilizar método próprio, para atravessar rios e trepar em árvores.
No fim do ano, uma águia “Anormal” , foi uma criança problema, que tinha nadadeiras enormes, obteve a melhor as notas mais altas e foi a oradora da turma.
Os ratos, cães de caça tiveram uma série de problemas , porque a administração não aceitou incluir no currículo , duas matérias que elas consideravam importantes: o “como” escavar tocas e “como” descobrir esconderijos. Como todo mundo já andava insatisfeito com o estado de coisas reinantes, alguns bichos começaram a matutar e descobriram que o problema estava em que administração sozinha não poderia saber o que os animais precisavam. Ai eles foram falando com todos os animais, que concluíram ser o problema esse mesmo.
E num dia inesquecível, a bicharada se reuniu numa clareira do bosque: macacos, esquilos, coelhos, águias, onças, urubus, cachorros gatos, leões etc.
E começaram a discutir...(a refletir)

Elis Regina - Como Nossos Pais



Elis Regina
Composição: Belchior

Não quero lhe falar,meu grande amor,
Das coisas que aprendi nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo

Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto
É menor do que a vida de qualquer pessoa...

Por isso, cuidado meu bem,há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal rstá fechado prá nós
Que somos jovens...

Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz...

Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade,não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...

Já faz tempo, eu vi você na rua,
Cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória,
Essa lembrança é o quadro que dói mais...

Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...

Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu estou por fora
Ou, então, que eu tô inventando...

Mas é você que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...

Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa, guardado por Deus,contando vil metal...

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais...

Mercedes Sosa e Milton Nascimento - Volver a los 17

Os que lutam




Ontologia Poética

"Há aqueles que lutam um dia; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis."

O Vosso Tanque General, É Um Carro Forte

Derruba uma floresta esmaga cem Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista
O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito

- Precisa de um piloto.
O homem, meu general, é muito útil:

Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar

"Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar."

Privatizado

"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria,  pensamento, que só à humanidade pertence."

Acredite Apenas

Acredite apenas no que seus olhos vêem e seus ouvidos Ouvem!
Também não acredite no que seus olhos vêem e seusOuvidos ouvem! Saiba também que não crer algo significa algo crer!

O Analfabeto Político




"O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."


Se os Tubarões Fossem Homens


Se os Tubarões Fossem Homens

Bertold Brecht

Se os tubarões fossem homens, eles seriam mais gentís com os peixes pequenos. Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais. Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim de que não moressem antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas, nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a guela dos tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí. Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixinhos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos. Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência. Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista. E denunciaria imediatamente os tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações.

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e peixinhos estrangeiros.As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos. Eles ensinariam os peixinhos que, entre os peixinhos e outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro. Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles naturalmente também uma arte, haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores e suas guelas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nas quais se poderia brincar magnificamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos tubarões.A música seria tão bela, tão bela, que os peixinhos sob seus acordes e a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos. Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, eles ensinariam essa religião. E só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida. Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros. Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões, pois eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores bocados para devorar. E os peixinhos maiores que deteriam os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiros da construção de caixas e assim por diante. Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

***

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O último andar


O último andar
No último andar é mais bonito:
do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.

O último andar é muito longe:
custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.

Todo o céu fica a noite inteira
sobre o último andar
É lá que eu quero morar.

Quando faz lua no terraço
fica todo o luar.
É lá que eu quero morar.

Os passarinhos lá se escondem
para ninguém os maltratar:
no último andar.

De lá se avista o mundo inteiro:
tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar:
no último andar.

Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo

Esta postagem é dedicada com carinho a Professora Sônia Damásio, ela sabe o significado desse poema.
Obrigada por tudo

Siga seus sonhos


Tenho um amigo chamado Monty Roberts, que tem um rancho em San Isidro. Ele me emprestou sua casa para realizar eventos com a finalidade de levantar dinheiro para programas em prol de jovens em perigo.

Da última vez que estivemos lá, ele me apresentou dizendo:

-Quero dizer-lhes porque deixo Jack usar minha casa. Isso remonta a uma história de um jovem rapaz, filho de um treinador de cavalos itinerante, que vivia de estrebaria em estrebaria, de pista de corridas em pista de corridas, de fazenda em fazenda e de rancho em rancho, treinando cavalos. Consequentemente, o curso de segundo grau do garoto era constantemente interrompido. Quando estava em último ano, lhe pediram que escrevesse sobre o que queria ser e fazer quando crescesse.

"Naquela noite, ele escreveu sete páginas sobre seu objetivo de algum dia possuir um rancho de cavalos. Descreveu seus sonhos com riqueza de detalhes e até fez o desenho de um rancho de oitenta hectares, mostrando a localização de todos os prédios, as estrebarias e a pista. Então, desenhou em detalhes a planta baixa de uma casa de quatrocentos metros quadrados, que edificaria nos oitenta hectares do rancho de seus sonhos."

"Ele colocou seu coração no projeto e no dia seguinte entregou-o ao professor. Dois dias depois recebeu sua folha de volta. Na página frontal havia um grande F vermelho e uma mensagem que dizia: 'Procure-me depois da aula.'"

O garoto do sonho foi ver o professor depois da aula e perguntou:
-Por que recebi um F?
O professor disse:
-Este é um sonho irreal para um rapaz como você. Você não tem dinheiro, vem de uma família itinerante. Não temos recursos. Ter um haras requer muito dinheiro. Você tem que comprar a terra. Tem que comprar os primeiros animais e, mais tarde, terá que pagar impostos enormes. Não há como você possa realizar isso algum dia. - E o professor acrescentou: - Se reescrever estas folhas com um objetivo mais realista, reconsiderarei sua nota.

O garoto foi para casa e pensou muito naquilo. Perguntou a seu pai o que deveria fazer. Seu pai disse:
- Olhe, filho, você tem que decidir isso sozinho. No entanto, acho que é uma decisão muito importante para você.

Finalmente, depois de sentar-se diante do trabalho por uma semana, o garoto devolveu o mesmo papel, sem fazer nenhuma mudança. E declarou:
- Pode ficar com seu F, que eu ficrei com meu sonho.

Monty voltou-se para o grupo e disse:
- Estou lhes contantdo esta história porque estão sentados em minha casa de quatrocentos metros quadrados, bem como no meio de meu haras de oitenta hectares. Ainda tenho aquele trabalho escolar emoldurado em cima da lareira.

E acrescentou:
- A melhor parte da história é que, há dois verões, aquele mesmo professor trouxe trinta garotos para acampar no meu rancho durante uma semana. Quando estava indo embora, o professor disse:
- Olhe Monty, posso dizer-lhe isso agora. Quando era seu professor, eu era um tipo de ladrão de sonhos. Durante aqueles anos, roubei os sonhos de uma porção de alunos. Felizmente, você teve juízo suficiente para não desistir dos seus.
Não deixe que ninguém roube seus sonhos. Siga seu coração, não importa o que aconteça.

Jack Canfield

Eu Van, declaro a quem interessar possa que nunca permiti que ninguém roubasse os meu sonhos, eles são tudo que tenho e confesso que a maioria deles realizei.
Deus em sua infinita bondade me permitiu concretizá-los, sonho coisas possíveis
e que dependem do meu empenho para realizá-los. Portanto amigos (as) nunca
desista dos seus sonhos.
Ah!!! mas...de vez em quando tb sonho com coisas impossíveis, mas.. de
uma forma ou de outra eles acontecem rsrs

Qual a melhor religião?



Qual a melhor religião? - Diálogo entre Leonardo Boff e Dalai
Lama {MARAVILHOSO!!! - Para Reflexão}

A todos os que buscam os caminhos que levarão à queda de todas as
barreiras e fronteiras, rótulos e lideranças!'

Leonardo Boff explica:

'No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos,

na qual ambos participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:

- 'Santidade, qual é a melhor religião?'

Esperava que ele dissesse:

'É o budismo tibetano ou são as religiões orientais, muito mais antigas
do que o cristianismo.'

O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos
olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia
contida na pergunta - e afirmou:

'A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus.

É aquela que te faz melhor.'

Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta,voltei a
perguntar:- 'O que me faz melhor?'

Respondeu ele:

- 'Aquilo que te faz mais compassivo

(e aí senti a ressonância tibetana, budista,

taoísta de sua resposta),

aquilo que te faz mais sensível,

mais desapegado,

mais amoroso,

mais humanitário,

mais responsável...

A religião que conseguir fazer isso de ti

é a melhor religião...'

Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta
sábia e irrefutável.'

Uma lição a aprender


Léo era um sujeito grandão, um tanto atrapalhado, que vestia sempre roupas remendadas e muito pequenas para o seu tamanho.
Diversos colegas divertiam-se muito pregando-lhe peças.

Um dia um colega notou um pequeno rasgão na manga de sua camisa e deu-lhe um puxão, aumentando o rasgado. Outro colega da fábrica deu sua contribuição, e outro, e logo havia um pedaço da manga rasgada, pendurado. Léo continuou o seu trabalho e, ao passar muito perto de uma correia em movimento, ficou com o pedaço rasgado preso na correia, tendo o braço puxado para dentro da máquina. Alarmes soaram, interruptores foram acionados, e um acidente mais sério foi evitado.

O chefe do setor, entretanto, ciente do que tinha acontecido, chamou o seu pessoal e contou a seguinte estória.

Quando era mais jovem, trabalhei em uma pequena fábrica. Foi lá que fiquei conhecendo Miguel.

Miguel era um sujeito grande, brincalhão, que gostava de fazer brincadeira com os outros, pregar pequenas peças. Ele era o líder da turma.

Havia também o Pedro, um seguidor, que sempre participava das brincadeiras do Miguel.

E havia também o Jaques. Ele era um pouco mais velho que o resto do grupo, quieto, inofensivo, à parte. Ele sempre comia o seu lanche sozinho, num canto. Por três anos seguidos, ele vestia sempre a mesma roupa remendada. Ele nunca participava dos jogos que jogávamos no horário do almoço, parecia indiferente, e sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore.
Jaques era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E ele sempre aceitava isso com bom humor.

Num fim-de-semana de outono, Miguel resolveu ir caçar. Pedro foi com ele, é claro. E eles prometeram para todos que, se caçassem alguma coisa, iriam trazer um pedaço para cada um de nós. Assim, nós ficamos todos muito animados e ansiosos quando soubemos que tinham retornado e que Miguel havia caçado um Antilope grande e gordo.
Ficamos sabendo mais que isso, pois Pedro nunca conseguia guardar um segredo apenas para si mesmo, e deixou transpirar que tinham preparado uma boa peça para aplicar no Jaques.

Miguel tinha dividido o antílope em pedaços e feito um pacote com uma boa porção para cada um de nós. E, para uma boa gargalhada, a peça era que ele havia separado as orelhas, o rabo e os cascos num pacote -- ia ser muito engraçado quando Jaques desembrulhasse aquele presente.

Miguel distribuiu os pacotes no horário do almoço. Cada um de nós ia abrindo o seu pacote, que continha uma bela porção de carne de antílope, e dizia obrigado. O maior pacote de todos ele deixou por último. Era para o Jaques. Pedro estava quase explodindo de vontade de rir, e Miguel exibia um ar de satisfação.
Como sempre, Jaques estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Miguel empurrou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa. Jaques não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que você nem percebia quando ele estava por perto. Em três anos ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.

Ele pegou o pacote firme nas mãos e levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.

"Eu sabia que você não ia se esquecer de mim", disse com a voz embargada, "Eu sabia, você é grandão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração." Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós. "Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem, eu tenho nove filhos em casa, e uma esposa inválida, presa na cama já fazem quatro anos. E sei que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.

Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto...Bem, eu acho que tenho ficado um pouco envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, havia talvez apenas uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saiba que essa carne representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, por que hoje à noite os meus filhos....", ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos "hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente..." e ele começou a abrir o pacote...

Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Jaques, enquanto ele falava, que nem tínhamos notado a reação do Miguel e do Pedro. Mas agora, todos percebemos quando os dois saltaram e tentaram pegar o pacote das mãos do Jaques. Mas, tarde demais. Jaques já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada casco, cada orelha, levantando o rabo do antílope.

Deveria ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Ninguém mesmo. E a pior parte foi quando Jaques, tentando sorrir, disse: "Obrigado."

Em silêncio, um a um, cada um dos colegas, pegou o seu pacote e colocou na frente do Jaques, pois eles haviam, de repente, compreendido quão pouco o presente significava para eles... até aquele momento...

Esse foi o ponto onde o chefe de seção parou sua estória e se afastou. Ele não precisou dizer mais nada, e foi gratificante notar que cada colega, naquele dia, enquanto almoçava, compartilhou parte da sua comida com o Léo, e um deles chegou mesmo a tirar a sua camisa e dá-la de presente para ele.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Paulo Freire- Frases




"Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.""Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. Todos educam-se entre si, mediatizados pelo mundo".

"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino"."A educação necessita tanto de formação técnica e científica como de sonhos e utopias".

"Educar é educar-se na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isso sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais."

"Se nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da eqüidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção"...
"O educador se eterniza em cada ser que educa".

"Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão."

"Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes"

"A amorosidade de que falo, o sonho pelo qual brigo e para cuja realização me preparo permanentemente, exigem em mim, na minha experiencia social, outra qualidade: a coragem de lutar ao lado da coragem de AMAR!!!"