quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ensinar exige disponibilidade para o diálogo



Paulo Freire

Nas minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente a opção que eu fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir que devo conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam me conquistar. È no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou elas. É na minha disponibilidade à realidade que construo a minha segurança, mas é impossível também criar a segurança fora do risco da disponibilidade.
Como professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a segurança com que me comporto ao discutir um tema, ao analisar m fato,ao expor minha posição em face de uma decisão governamental. Minha segurança não repousa na falsa suposição de que sei tudo, de que sou o maior. Minha segurança se funda  na convicção de que sei algo e ignoro algo, a que se junta a certeza de que posso saber melhor o que eu já sei e conhecer o que ainda não sei. Minha segurança se alicerça no saber confirmado pela própria experiência de que, se minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um lado, minha ignorância, me abre,  de outro,o caminho para conhecer.
Me sinto seguro porque não há razão para me envergonhar por desconhecer algo. Testemunhar a abertura dos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus desafios, são saberes  necessários a prática educativa.Viver a abertura respeitosa dos outros, e de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objeto de reflexão crítica deveria fazer parte da aventura  docente. A razão ética da abertura, seu fundamento político, sua referência pedagógica: a boniteza que há nela como viabilidade do diálogo. A experiência da abertura como experiência fundante do ser inacabado que terminou  por se saber inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos outros à procura de explicações, de respostas a múltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da incompletude.

O sujeito que se abre ao mundo e aos ouros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na história.