segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Eu ensinei a todos eles


"Lecionei no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo,dei tarefas a entre outros, um assassino, um evangelista, um pugilista, um ladrão e um imbecil.

O assassino era um menino tranquilo que sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis;

O evangelista era o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos jovens;

O pugilista ficava junto da janela, e de vez em quando soltava uma risada rouca que espantava os gerânios;

O ladrão era um jovem alegre com uma canção nos lábios;

E o imbecil, um animalzinho de olhos mansos, que procurava as sombras.

O assassino espera a morte na penitenciária do estado;
O evangelista há um ano jaz sepultado no cemitério da aldeia;
O pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong;
O ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela da cadeia municipal;
E o pequeno imbecil, de olhos mansos de outrora, bate a cabeça contra a parede alcochoada do asilo estadual;

Todos esses alunos outrora,sentaram -se na minha sala e me olhavam gravemente por cima de mesas marrons.

"Eu devo ter sido muito útil para esses alunos _ ensinei-lhes o plano rítmico do soneto elisabetano, e como diagramar uma sentença complexa."

(PULLIAS, E V.YOUNG J.A A arte do magistério)

Sempre que apliquei esse texto em capacitações
me emocionei.

O que estamos ensinando aos nossos alunos?

Um comentário:

  1. ESSE TEXTO É MUITO EMOCIONANTE.Tanto a afirmação como o questionamento são constantes em minha vida de Professora. Este texto vem-me sempre à mente quando analiso minha amada profissão; quando tenho conhecimento de algum ex-aluno num caminho tortuoso e quando ocorrem tragédias ‘afins’. E veio com mais ênfase ontem 07.04.2011 no ocorrido no RJ...
    Como tenho chorado... me sentido ‘impotente’ para assim me solidarizar com os Profissionais que passaram por este fato hediondo... como é difícil aceitar ‘um transtorno mental’ tão fácil de entender na teoria...
    As palavras do Educador Mário Sérgio Cortella, perguntado se é normal a comoção nacional/mundial: “Que bom que ainda temos àquilo que o “atirador’ havia perdido”, ameniza a minha dor, mas tenho que dividi-la.
    Obrigad@ AMIG@ por me entender!
    Maria Antonia

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