quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Ritos de iniciação




Várias sociedades indígenas marcam a passagem do jovem para a vida adulta, onde vai gozar da plenitude dos seus direitos, com certos ritos, chamados de iniciação, os quais constituem, também, ritos de passagem.
Entre os índios Apinayé, a transformação dos meninos em guerreiros se dá em duas etapas, que juntas cobrem o espaço de um ano. E cada uma dessas etapas constitui ritos de passagem. A primeira etapa é como que uma preparação para a segunda, a qual constitui realmente a passagem para a classe dos guerreiros. Não vamos descrever aqui esses ritos em seus detalhes por serem demasiado complexos. De qualquer modo, vamos fazer notar aqui que as duas citadas etapas constituem ritos de passagem, porque podem ser divididos nas três fases que caracterizam esses ritos: a) separação; b) transição; e c) incorporação.
Na primeira etapa os meninos que têm por volta de quinze anos de idade são separados dos demais por uma cerimônia que pode ser considerada como um rito de separação. Passam então a serem chamados de pebkaág, isto é, “semelhantes a guerreiros”. Daí por diante, durante alguns meses, embora durmam em suas casas maternas, os jovens em iniciação passam praticamente os dias separados da aldeia: têm um acampamento próprio, um local de banho só para eles, um pátio deles a leste da aldeia, um caminho circular em torno da aldeia pelo qual vêm buscar alimento em suas casa maternas. Recebem instrução todos os dias de dois índios maduros. Levam uma vida à parte da dos demais moradores, vindo à aldeia quase que somente para dançar à noite e dormir. Tal fase é marcada pelos ritos de transição. È durante esse período que os jovens têm suas orelhas e seu lábio inferior perfurado para uso de batoques. Finalmente, depois de algum tempo são de novo trazidos à vida da aldeia por uma cerimônia constituída de ritos de incorporação.
A segunda etapa começa também por um rito de separação. Os jovens a partir de então são chamados de pemb, isto é, “guerreiros”. Nessa segunda etapa, os jovens ficam numa reclusão rigorosa, sendo feito para cada um deles um pequeno quarto totalmente fechado dentro de sua casa materna. Os jovens não devem ser vistos: ou estão em seus quartos ou, então, longe da aldeia. Nesta fase, seus instrutores lhes aconselham sobre como escolher e como tratar a esposa, como tratar seus colegas, como confeccionar seus enfeites, exortam-nos a obedecer a seus chefes, etc. Marcam essa fase os rituais de transição. Finalmente eles voltam outra vez à vida da aldeia através dos ritos de incorporação.
Ao serem novamente incorporados à vida da aldeia, os jovens já não são mais os mesmos. Já não são considerados meninos, são tratados como adultos e podem casar-se. As mulheres não passam por esses ritos, a não ser algumas, por privilégio especial.

(MELLATTI,Júlio César, Índios do Brasil. 3.ed.São Paulo, Hucitec,1980.p.123-4)

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