sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Pesquisa científica - Psicologia Educacional I

Esse trabalho foi realizado na cadeira de Psicologia da Educação I, Orientado por João Camilo de Melo professor da disciplina. (FUNESO).
O grupo teria que entrevistar:
Um adolescente do sexo masculino e um do sexo feminino;
Um pai e uma mãe de adolescente;
Três autoridades escolhidas dentre elas:
Professor, psicólogo, religioso, médico, autoridade social, orientador educacional.
No segundo momento: A entrega de relatório escrito, com análise das entrevistas.
No terceiro momento: Apresentação do relatório escrito (oralmente)

Um dos nossos desafios era conquistar os entrevistados para que fossem o mais verdadeiro possível. Conversei com uma amiga, expliquei como seria o trabalho e ela aceitou o convite. Marcamos um dia em que as filhas dela não estivessem em casa, num clima descontraído iniciamos o nosso trabalho. (Só eu e ela).

Eis a entrevista:

Nome: Entrevistado "A"
Sexo :feminino
Idade:46
Grau de instrução:3º grau
Curso: Sociologia Política

Entrevistadora
A gravidez de sua mãe foi desejada?
"A"
De acordo com a época, as pessoas engravidavam e não pensavam em aborto. Aconteceu.

Entrevistadora
Ela teve uma gravidez tranquila?
"A"
Tranquila

Entrevistadora
O parto foi normal?
"A"
Normal quando a parteira chegou eu já tinha nascido.

Entrevistadora
Como foi a sua infância?
"A"
Eu acho que a minha infância foi complicada. Tive uma infância adulta, eu era muito esperta em relação às outras crianças, eu já distinguia criança chata, má, metida, isso eu tinha de 5 para 6 anos. Eu já tinha uma boa percepção.

Entrevistadora
Quais as doenças que você já teve?
"A"
Papeira, varicela. Era campeã em ameba e giárdia, meu corpo estourava todo.

Entrevistadora
O que marcou na sua infância?
"A"
Eu tenho uma família de negros com preconceito com negros. Todo mundo era moreno, só eu era negra. Chamavam-me de: Canela de Seriema, negra safada, canela fina. Eu era o patinho feio. Por conta disso eu me super valorizei, me achava a mais inteligente, a mais gostosa. A minha família tinha um padrão de beleza errado. Tanto que, quando eu arranjava um namorado, considerava que ele fosse superior a mim. Mas ele tão bonitinho e me quis, entendeu?

Entrevistadora
Como foi a sua adolescência?
"A"
Muito parecida com a infância. Já estava mais adulta e mais amadurecida. Julgava minha família sem cultura. Associava os personagens dos livros que eu lia as pessoas. Eu lia um livro, tinha um determinado personagem, então eu dizia, fulano é assim. Fui muito solitária. Por me sobressair na escola, cheguei a me relacionar, tinha as minhas amizades. Eu era muito bagunceira, mas responsável com as obrigações da escola. Amadureci. Amava a história da Revolução Francesa e não encontrava ninguém compatível, que eu pudesse conversar sobre ela. Gostaria de ter tido mais esclarecimentos para poder formar os meus próprios conceitos em relação as matérias. A escola deixou a desejar não me completava.
Aos 14 anos fiz um teste de QI e deu 120. Isso me incentivou mais ainda a vencer a vencer os obstáculos de preconceito etc.

Entrevistadora
Quando despertou sua sexualidade?
"A"
Aos 10 anos, mas com traumas.

Entrevistadora
Que tipo de trauma?
"A"
Tudo que as pessoas faziam, as pessoas alegavam que era safadeza.

Entrevistadora
Você deseja falar sobre a sua primeira experiência na relação sexual?
"A"
Sim. Foi uma satisfação de safadeza, o que eu queria fazer a muito tempo e foi gratificante, não me arrependi nem um minuto.

Entrevistadora
Foi com alguém especial?
"A"
Não. Foi só realização de fazer safadeza. Acho que o que eu gostava mesmo, era de fazer safadeza.

Entrevistadora
Qual a sua idade na época?
"A"
21 ou 22 anos.

Entrevistadora
E o seu primeiro amor?
"A"
Tive umas 300 paixões. Todas as minhas paixões sempre me marcaram.
A minha carência, me levava de imediato a paixão de forma exagerada,
depois me aborrecia e começava a ver os defeitos.Tive um namorado que eu deixei porque ele veio dizer que mulher não era para estar metida em política, pronto! me abusei dele (ela foi militante do PCB). É difícil dizer o que senti por cada um deles. Minha primeira paixão foi aos 14 anos, não sabia definir se era amor ou paixão.

Entrevistadora
Você já usou drogas?
"A"
Eu nunca tive vontade. Cheirei loló aos 37 anos e não aconteceu absolutamente nada. Minha amiga me ensinou, inalei,aspirei e nada.

Entrevistadora
Tem algum vício?
"A"
Fumo e bebo. Considero como vício: O meu marido ou a pessoa que estiver comigo, quero que esteja sempre presente.

Entrevistadora
Na sua opinião o que leva o indivíduo a usar drogas?
"A"
Carência

Entrevistadora
Você já teve pensamento suicídas?
"A"
Não, às vezes estamos chateados e diz que quer morrer (mas é brincadeirinha viu Deus).

Entrevistadora
Como é a relação com os seus pais?
"A"
De tolerância, é um amor tolerante.

Entrevistadora
Fale sobre seus pais
"A"
Pai: O meu pai foi uma pessoa muito liberal, gostava de festa e folia. Mas não foi uma pessoa que interferisse, que aconselhasse. Ele deixava tudo para minha mãe resolver, porque ela era durona e ele saía por bonzinho. Não tenho nada que possa dizer que a agradeço a meu pai. Meu pai era diretor de uma escola e era o mais culto da família.

Mãe:Minha mãe muito maldosa e um pensamento sem evolução. Evoluiu mais agora. Tudo para ela era safadeza. Nunca questionou a posição dela como mulher. Nunca deixou o marido por questões de segurança. Materialista, escondia as falhas e as irresponsabilidades financeiras do marido para não deixar a vida que tinha.

Entrevistadora
Como eles foram educados?
"A"
Mãe: Teve uma péssima educação, embora ela tenha bons modos. É muito inteligente, mais do que meu pai, apesar do meu pai ser mais culto. A mãe dela (minha avó) deixava os filhos a vontade e namorava muito. Minha mãe foi criada mais com a tia. A madrinha era prostituta de xangô, ela mistificava e pedia as coisas ao povo para dar a mamãe, ela reprovava essa atitude. Minha mãe fez a própria educação, o fato dela ser uma pessoa maldosa, é fruto da sua história.
Pai: A educação dele foi uma coisa mais de escola, de regime, estudou em bons colégios. A mãe dele era invejosa e o pai eu não conheci, mas acredito que era um negro bom. Tinha vida financeira boa e casou com uma mulher branca, eu acho que ela casou por interesse.

Entrevistadora
Como é a sua relação com seu companheiro?
Defina-o como pai e como companheiro.
"A"

Pai: Não é pai, não tem noção do que seja ser pai. Não educa, não ensina, não orienta. Educação prá ele é mandar comer de boca fechada. Não se relaciona com os amigos das filhas, acha que todo mundo quer "co...” “as filhas e a mulher”. Não respeita a individualidade de ninguém. Nunca falou com as filhas sobre drogas, sexo, nem das coisas do mundo, como guerra, desnutrição etc. Não sabe do que as filhas gostam, a não ser que, uma gosta de caranguejo e a outra de frango.
Homem: Não é companheiro, é um ditador. Para conviver com ele tem que fazer tudo que ele quer, nem o que ele sabe que eu gosto ele faz. É uma pessoa que não tem consciência do mundo em que vive. Irresponsável. Vive exclusivamente de projetos pessoais, não tem projetos nem para a família, nem de forma coletiva. Egoísta e insensível.
Relação sexual: É uma" mer.. ", uma "bi.... grande e adormecida". Não se preocupa com a aprceira, quer "go..." logo e pronto. A questão é que ela fica em estado de "e....." mesmo depois que ele "g...", mas é um homem morto. Eu subo em cima dele e "g...." quantas vezes eu quiser e ele não está nem ai. Eu me reeduquei sexualmente. Nunca me masturbei por questão de princípio. Como ele só pensa nele, "Eu sou a mão dele e ele é meu vibrador".

Entrevistadora
Você costuma ter sonhos eróticos?
"A"
Eu tenho muito. Eu não sei se é por conta de minha safadeza. Mas eu sonho me "esfregando" e fico excitada, quando eu percebo é minha madrinha, meu sobrinho (adolescente), quando é com minha filha eu fico apavorada. Outro dia eu pensei será que eu estava bolinando em fulana (ela dorme com a filha e não com o marido).

Entrevistadora
Você tem sonhos assim, com os amigos?
"A"
(risos) Ela olhou prá mim e disse: não se inclua porque eu nunca sonhei com você. Uma vez eu sonhei com dinheiro, em vez de rostos eram índios nus.

Entrevistadora
Você tem algum tipo de preconceito?
"A"
Não sei se é preconceito, eu não gosto de orientais, eles me dão medo, são pessoas violentas, não sei se é por conta dos filmes que já vi. Tem muita violência.
Também não gosto de sair com mulheres que tem cara de "p...", não sei se é preconceito.
Eu tenho um afilhado que é travesti, tem peito e tudo. Não tenho vergonha dele, mas tenho medo de ir a um bar com ele, por medo de agressão, ou seja, tenho medo que ele seja agredido, porque você sabe, os homens têm raiva desse povo assim e logo vão imaginar que eu sou prostituta (travesti só tem amizade com prostituta).Tenho pena dele porque ele não pode ser mulher.

Entrevistadora:
Na sua opinião o que leva o indivíduo ao homossexualismo?
"A"
Pela experiência que tive com meu afilhado, eu acho que nasce com a pessoa. Aos 5 anos perguntavam o nome dele e ele dizia que era Sônia.Não sei por quê mas ele hoje não usa o nome de Sônia.

Entrevistadora
Ele foi estimulado para que isso acontecesse?
"A"
Não, pelo contrário, acho que ele foi reprimido. O preconceito da família era muito grande, demonstravam mal estar na presença dele. A família não incentivou.

Entrevistadora
Você já teve alguma relação homossexual?
"A"
Não, mas já me excitei muito com os filmes eróticos “aquela ch.....",
"aquela lín...", acho maravilhoso o sexo oral que elas fazem.

Entrevistadora
Então você acha bonito?
"A"
Eu não acho bonito, eu tenho é vontade de fazer.

Entrevistadora
Você sente necessidade de fazer terapia?
"A"
Sim, por conta dessas coisas mal resolvidas da infância, do meu relacionamento. Uma vez minha filha precisou, ela tinha um problema emocional e reação era no corpo. Mas serviu, mas prá mim do que prá ela.

Entrevistadora
Durou quanto tempo?
"A"
6 meses

Entrevistadora
Qual é a sua religião?
"A"
Católica praticante

Entrevistadora
Defina vida e morte e o que as duas representam para você?
"A"
Morte e vida são coisas semelhantes, são coisas determinadas. Você não pode parar de viver, nem pode parar de morrer. Quando você morre, você vive. E quando você vive pode ter uma vida que é uma verdadeira morte. A morte é uma passagem para vida plena. Por pior que você seja terá sempre uma segunda chance lá em cima.

Entrevistadora
Gostaria de falar sobre seu trabalho?
"A"
Trabalho de artesã, que é uma coisa que eu gosto muito. Substitui o trabalho que eu tinha na sociologia. Eu sempre fui muito criativa. Faço um trabalho sociológico com elas, transfiro do geral para o particular. Só não gosto do trabalho doméstico. Só o fato de ter uma formação superior me dá um jogo de cintura para encarar as coisas do dia a dia.

Entrevistadora
Defina o ser humano
"A"
Acho o ser humano maravilhoso, é a coisa mais maravilhosa, é como se fosse uma massa de modelar. Não é que eu queira manipular, mas são pessoas que você pode ajudar para que elas fiquem mais bonitas. Bonitas mesmo, eu estou falando de estética. Isto as pessoas normais, porque só Freud e talvez nem ele com estas teorias derrubadas.

Entrevistadora
Esse espaço é livre para que você acrescente o que você quiser.
"A"
Medo: De gente, não conheço bem as pessoas. Já quebrei muito a cara confiando nas pessoas.
Acrescentou: A classe média não está com fome de comida e sim de luxo e quando não conseguem o que querem ficam agressivas.

Frustração: Queria um trabalho onde eu pudesse dirigir alguma coisa, queria liderar.

Lembranças:Não sei se é o momento. As lembranças boas raramente eu sinto saudades e já não tem a mesma importância

Preconceito: Tenho preconceito comigo mesmo. Há tempo para tudo, a própria Bíblia diz isso. Sou rigorosa comigo mesmo. Não suportaria estar com 60 anos e fazer coisas de adolescente.

Raiva:É uma coisa que eu não tenho(associou a mágoa).

Entrevistadora
Quer acrescentar mais alguma coisa?
"A"
Suspirou e disse: Eu fui além( ficou quieta um instante).

Entrevistadora
Além de que?
"A"
Do tempo, das paixões, das maldades. Só não consegui ir além dos meus medos. Acho que derrubei barreiras.

Entrevistadora
Que tipo de barreiras?
"A"
Preconceito racial, de sexo. Eu nunca fui nenhum prtótipo de beleza,
(ela atribui o fato das pessoas se aproximarem dela, pela sua criatividade e inteligência). Nasci ou cedo ou tarde demais. Apesar de ter uma cabeça evoluída gostaria de ter vivido na Idade Média.

Acrescentou: Gostei muito de ter falado
Agora tem uma coisa, quero saber o resultado.

Quando concluímos entreguei prá ela a análise do trabalho, em resumo foi a mais verdadeira em suas colocações, tb foi considerada a de melhor conteúdo a ser analisado. Essa entrevista aconteceu em 1999. Hoje ela está realizada profissionalmente (separou-se do seu companheiro), as filhas formadas e bem encaminhadas profissionalmente e na vida pessoal.
A pessoa entrevistada é minha amiga, uma das melhores companhia que conheço, extrovertida, imaginação fértil , solidária e muito humana.
Vaneide Freitas

Um comentário:

  1. Queria parabeniza-la pela maravilhosa entrevista, mas minha admiração especial; queria dedicar a entrevistada, apesar dos pesares da vida, senti uma força e equilibrio fora do comum. Deve ser mesmo uma pessoa especialissima, geralmente as pessoas são conformistas e se desculpam em seus traumas, ela parece enfrenta-los com coragem, uma mulher valente; sinceros aplausos a ela, a senhora "A".
    Bjs com todo meu carinho
    Theresinha Coelho

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