Paulo
Freire
Nas
minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente a opção que eu
fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso
partir que devo conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco temo que
pretendam me conquistar. È no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas,
na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou elas. É
na minha disponibilidade à realidade que construo a minha segurança, mas é
impossível também criar a segurança fora do risco da disponibilidade.
Como
professor não devo poupar oportunidade para testemunhar aos alunos a segurança
com que me comporto ao discutir um tema, ao analisar m fato,ao expor minha posição
em face de uma decisão governamental. Minha segurança não repousa na falsa
suposição de que sei tudo, de que sou o maior. Minha segurança se funda na convicção de que sei algo e ignoro algo, a
que se junta a certeza de que posso saber melhor o que eu já sei e conhecer o
que ainda não sei. Minha segurança se alicerça no saber confirmado pela própria
experiência de que, se minha inconclusão, de que sou consciente, atesta, de um
lado, minha ignorância, me abre, de
outro,o caminho para conhecer.
Me
sinto seguro porque não há razão para me envergonhar por desconhecer algo.
Testemunhar a abertura dos outros, a disponibilidade curiosa à vida, a seus
desafios, são saberes necessários a
prática educativa.Viver a abertura respeitosa dos outros, e de quando em vez,
de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como
objeto de reflexão crítica deveria fazer parte da aventura docente. A razão ética da abertura, seu
fundamento político, sua referência pedagógica: a boniteza que há nela como
viabilidade do diálogo. A experiência da abertura como experiência fundante do
ser inacabado que terminou por se saber
inacabado. Seria impossível saber-se inacabado e não se abrir ao mundo e aos
outros à procura de explicações, de respostas a múltiplas perguntas. O
fechamento ao mundo e aos outros se torna transgressão ao impulso natural da
incompletude.
O
sujeito que se abre ao mundo e aos ouros inaugura com seu gesto a relação
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em
permanente movimento na história.